quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

TESTEMUNHE




A 10 anos atrás uma hora dessa eu estava bem chocada com o rumo que minha vida havia acabado de tomar...


Para falar sobre esse novo rumo, eu preciso pontuar algumas coisas sobre a adolescente que era, afinal de contas eu só tinha 17 anos e tinha acabado de terminar o Ensino Médio.
É claro que eu já tinha traçado o caminho do meu sonho pós ensino médio. Eu estava com tudo certo para viver meu sonho de me formar em MIssiologia no sul do Brasil, e sim, meu sonho era ir para um internato, sem sinal de telefone, com zero contato com a TV e um bônus de só pode ir na cidade uma vez ao mês!
Pesadelos para alguns né? Mas era uma maravilha para mim, afinal o meu sonho mega hard daquela época era contrabandear bíblia para a Coreia do Norte 😎 (OH COMO É BOM SER VIDA LOKA)

Mas...


Mesmo com o apoio dos meus pais, familiares e de uma igreja muito amorosa. Mesmo com toda a determinação de viver meu sonho de ser missionária como os meus pais foram um dia...Mesmo assim pouco antes do Natal, semana do meu aniversário de 17 anos eu estava de frente para uma Neurologista dentro de uma sala do SMU do IPSEMG ouvindo a Dra. Márcia me dizer de forma franca( e eu amo ela imensamente por isso) que eu fui diagnosticada com uma doença sem cura, chamada Esclerose Múltipla. Não houve rodeios (quem me conhece sabe que não a mínima paciência pra isso tbm kkk), ela me olhou nos olhos e me disse que eu podia ficar cega, surda, muda, paraplégica, tetraplégica, mais um escambal que eu nem lembro e até morrer.

Acho que eu estava tão em choque que a única dúvida que eu tive foi se eu podia continuar comendo de tudo. HAHAHAHAHA


Hoje vejo que minha reação foi meio bagunçada no começo, porque, bem...no auge dos seus 17 anos e com um futuro promissor planejado, se deparar com essa montanha no caminho chamada Esclerose Múltipla é algo que choca, destrói e desmotiva.

Quando a médica soube que eu queria ir para um internato que ficava a 1.200km dos meus pais, ela disse bem claro que não seria bom se eu fosse. Veja bem, não é que ela não entendia meu lado, mas como médica e ser humano responsável, ela precisava me informar que eu passaria por momentos dolorosos no começo da doença e que passar por isso longe dos pais, da família e dos amigos só contribuía para eu desenvolver uma depressão e outros fatores.

Pensar no começo disso 10 anos depois é bem interessante. Eu era uma adolescente na época, na minha cabeça a pior coisa que me podia acontecer era ficar sem poder comer de tudo. Como eu poderia entender algo dessa magnitude? A EM não é como um câncer que costuma ser mais visível, na verdade ela costuma ser uma doença invisível e silenciosa, eu olhava para mim no espelho e não dava para ver as lesões no meu cérebro ou na minha medula. Ninguém conseguia ver a hipersensibilidade, a perda de força, as dores de queimação e o formigamento quando olhavam para mim.

Mas qual meu propósito com esse texto? Acredite, tem um ....


A 10 anos atrás eu recebi um diagnóstico em uma época que não havia muita informação sobre a doença, os tratamentos eram mais limitados no Brasil e os tabus eram muito fortes ainda. Acredita que eu ouvi de médico que nem filho eu podia ter! Ouvi que eu ia ter depressão, que eu ficaria em uma cadeira de rodas, que eu não ia poder trabalhar...

Que pessoa no mundo está preparada para ouvir isso? Que adolescente está preparado para ouvir isso logo quando pensa que vai viver seus sonhos? Acredito que ninguém, mas eu ouvi. Sofri tanto preconceito que até fiquei preconceituosa comigo mesma. Achei que nem ia conseguir casar, porque quem iria querer casar com uma pessoa com o futuro definido como meu?

Bom...

Dez anos depois eu estou aqui. Extremamente saudável! Tenho um marido que me ama (QUE SÓ ME CONHECEU POR CAUSA DA EM), meu próprio negócio e SIM UM BÊBÊ A CAMINHO!


Não vou mentir e dizer que é e foi tudo mil maravilhas, mas me diz, que vida não é assim? Se tem uma coisa que a EM me ensinou é ter empatia com a dor dos outros, independente de qual seja ela.

Hoje eu percebo que estou aqui pelo mesmo motivo que eu estive a vida inteira. Estou aqui porque o Deus do Impossível NUNCA desistiu de mim. Pela graça Dele eu posso ser um milagre todos os dias. Pelo amor Dele nenhuma definição ou estereótipo foi decisivo na minha vida, por Ele eu vivo todos os dias. Porque o Apóstolo Paulo tinha mesmo razão, morrer é lucro...para mim um imenso lucro, mas viver? VIVER SE TORNOU PURA E SIMPLESMENTE CRISTO!


Hoje eu agradeço a Deus por transformar minha história, por pegar aquilo que parecia impossível e a minha morte e transformar em um milagre para a glória Dele! "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." (Romanos 11:36)


Eu vivo meus sonhos, sou missionária (sim, eu fui para o CTMVida e pela graça de Deus consegui me formar) e continuo vivendo os projetos que eu fiz, mas o mais importante, do melhor jeito possível, do jeitinho de Deus. Ainda que o caminho tenha sido diferente, totalmente diferente na verdade, eu só posso agradecer!



Eu não seria a mulher que sou hoje sem a EM, através dela Deus me fez mais forte, me fez uma mulher de fé, me faz mais humana, me fez ser um milagre e principalmente me fez ser a serva de Deus que eu sempre desejei ser.



“Nem tudo está perdido como parece… sabe, coisas extraordinárias só acontecem a pessoas extraordinárias, vai ver é um sinal que você tem um destino extraordinário, algum destino maior do que você pode ter imaginado.”
As Crônicas de Nárnia